Estava lendo o ótimo livro de Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. Lá pelas tantas, Leandro aborda o mito Lampião, descrevendo-o como um bandido mais chegado aos coronéis do que aos pobres e “brega no último”:
“Obcecado por luxos, novidades estrangeiras e pela própria aparência, ele costumava exagerar. Fã de uísque White Horse e licor de menta francês, perambulava pelo sertão com botões de ouro no casaco e cheio de perfume”.
Citando o historiador Frederico Pernambucano de Melo, Leandro conta que Lampião usava o cabelo untado de brilhantina e tomava banho de perfume francês, Fleur d’Amour. Gostava tanto do perfume que passava também nos cavalos. Usava lenços de seda no pescoço e apresentava um cartão de visitas com sua foto, o que só os endinheirados tinham. E andava de carro.
Todo esse luxo me fez lembrar do relógio que Lampião carregava nas suas andanças pelo sertão: um legítimo Patek Philippe, de ouro, com corrente, para ser usado no bolso e importado da Suíça. A marca Patek já era, e ainda é, uma das mais prestigiosas e caras. Desde 1902, os ricos brasileiros compravam seus Patek em 79 parcelas de 10 francos suíços, em consórcios conduzidos por uma joalheria carioca de nome Gondolo & Labouriau, cuja loja ficava na rua da Quitanda, 81, no centro do Rio. Eram vários os modelos importados, tanto de bolso quanto de pulso. Lampião deve ter roubado o seu exemplar de algum abonado, durante os anos 20 – 30, quando aterrorizou o nordeste.
Lampião morreu num cerco da polícia em 1938. Seu Patek foi parar no museu do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador (onde até 1961 ficaram também as cabeças mumificadas de Lampião e Maria Bonita, posteriormente enterradas). No museu, o relógio acabou roubado. Dos 18 anéis que Lampião tinha (dos quais usava 6), incluindo de diamante e esmeralda, e também o anel de ouro que prendia seu lenço de seda ao pescoço também só sobrou história.