Dias desses uma amiga quase entrou em crise existencial porque não estava mais se sentindo tão confortável para passar horas seguidas sobre saltos altíssimos. No íntimo, percebi, ela temia parecer menos elegante sobre sapatilhas, ainda que Prada ou Chanel.
Dramas à parte, constatei, ao pensar sobre o tema, que para algumas mulheres o mundo pode, ao contrário, ficar bem mais acessível quando descemos do salto. Não sei se pelo interesse pelo outro_que cresce visivelmente quando você desce um pouquinho_ ou pela mera despreocupação com o equilíbrio e a imagem soberana automatizados ao longo da vida. Por um motivo ou outro, você acaba acessando mais tranquilamente o que está ao redor, as coisas que de fato lhe interessam. Tenho gostado especialmente de fazer isso: praticar a acessibilidade mais pé no chão _até porque minhas pernas já não são tudo isso para saltos enormes.
Mas o que essa conversa tem a ver com joias?, alguém vai perguntar. Tudo a ver, respondo. A iniciativa de descer do salto pode, em vários aspectos, nos dar o sentido pleno de que a moda, além de retrato fiel de épocas e comportamentos, é o recurso importantíssimo para fazermos o que quiser com nossas personalidades tão complexas, nos momentos que acharmos ser os mais adequados para tanto. Para muitas, descer do salto, portanto, equivale a estar, um dia que seja, longe daquele diamante superpoderoso ou do anelzão que nos segurança, rumo, poder ou bom senso. Não que precisemos nos livrar deles, por favor, não me entenda mal. Nem do salto, nem da atual bolsa da nossa vida, nem de nada que nos dê prazer. Muito ao contrário, aliás. Precisamos, sim, de todos eles _não importam os motivos_, mas entender plenamente o que eles significam é o mais divertido e legítimo para subirmos e descermos _ na vida em geral_ , sempre que desejarmos, especialmente em busca de uma autonomia que esteja além das nossos itens prediletos. >>> Costanza Pascolato