Retornei de uma viagem a Paris onde, mais uma vez, notei as ruas recobertas de paralelepípedos, tão bem ajustados. Os famosos “pavés de Paris” são seculares. Pavé, do francês, significa pavimentação em português. Das ruas, portanto, saiu a inspiração para a técnica de joalheria segundo a qual as pedras são cravadas lado a lado, bem juntas, recobrindo a joia. E como elas brilham!
O pavé de pedras exige antes de tudo um trabalho preciso do ourives, cravador e polidor. Após as pedras serem selecionadas com precisão quanto ao tamanho, cor e profundidade, o ourives prepara a joia com furos ajustados milimetricamente e correspondendo à quantidade de pedras que nela serão fixadas. Isso muitas vezes significa planejar a fixação de centenas de pedras. Na pulseira Sutra, por exemplo, o pavé é de 6.750 pedras, entre safiras, peridotos e granadas.
O cravador inicia o seu trabalho 100% artesanal fazendo ajustes nos furinhos, chamados “berços”, onde as pedras serão fixadas com minúsculas garras, esculpidas pelo artesão com lima e buril. Imaginem: se cada pedra possui quatro garras, a pulseira Sutra reúne 27.000 garras, feitas uma a uma em processo manual, o que irá consumir mais de dois meses de trabalho.
Pulseira Sutra, com pavé de 6750 pedras
Antes de enviar para o polidor, o cravador verificará cada pedra para ter certeza de que estão todas ajustadas com precisão. O polidor, por sua vez, irá trabalhar a joia com máxima delicadeza a fim de retirar alguma eventual farpa que tenha ficado no ouro. A joia tem que ficar “lisa como um veludo” para não correr o risco de danificar um vestido. O controle de acabamento, portanto, tem que ser rígido.
Os pavés podem ser de pedras do mesmo tamanho e também de tamanhos distintos. Mas, nesse caso, é preciso que o designer faça cálculos precisos de posicionamento das pedras. O cravador começará a fixar as pedras maiores, depois as médias até chegar às menores, completando totalmente os espaços vazios. No colar Sofia, um clássico da H.Stern de 2002, os 1.852 diamantes são de vários tamanhos, em diferentes tons de amarelo e marrom, formando ondas num design incrível.
Colar Sofia, com ondas de diamantes de diversos tamanhos e tons
Um bom pavé você reconhece olhando a peça bem de perto. As garrinhas de ouro têm que ser pequenas, delicadas. Afinal, o que deve sobressair são as pedras preciosas. Já vi muita joia por aí com garras em forma de prego (praticamente ocupam o espaço de uma pedra) que são um atentado para os olhos!
Bracelete Stern Star com pavé de diamantes negros e diamantes brancos, com pedras de diferentes tamanhos