Dias atrás, mostrei aqui no blog a nova coleção Roberto Burle Marx por H.Stern. Queria, agora, mostrar os bastidores da criação dessas joias.
Essa não foi uma coleção fácil de ser feita, já vou logo contando. Isso porque o universo de Burle Marx é muito grande e muito rico. Ele deixou um legado enorme de obras, telas, tapetes, esculturas, infinitos jardins e uma coleção maravilhosa de plantas, que podem ser visitadas no Sítio Santo Antonio da Bica, em Guaratiba, onde ele viveu, no Rio de Janeiro. Aliás, um passeio belíssimo se você estiver no Rio.
Mergulhamos fundo no mundo de Burle Marx. No final, os designers da H.Stern se concentraram em desenhos de joias dos anos 60 deixados pelo próprio Roberto. Dá pra enxergar neles muita coisa comum entre o design de joias e também dos jardins Burle Marx.
Este desenho, acima, é de uma pulseira, de 1962, e inspirou o bracelete abaixo. Traz elementos geométricos que se encaixam uns nos outros. Esses elementos também são vistos em diferentes projetos de calçadas assinadas por Burle Marx. Ele criava joias desenhando com giz colorido sobre papel cartão preto, datava e assinava cada uma delas.
Pulseira Caminhos, da H.Stern, composta por duas partes que se separam uma da outra, como num divertido quebra-cabeças. O design remete aos caminhos que se encontram, se cruzam e se encaixam. Se estiver passeando por Copacabana, no Rio, olhe as calçadas do canteiro central e próximas dos prédios, com desenhos que lembram justamente essa pulseira Caminhos.
Neste outro desenho de pulseira, de 1962, percebe-se a contraposição de espaços preenchidos e espaços vazados. Essa ideia faz paralelo ao uso da iluminação em contraponto à sua ausência nos jardins de Burle Marx e ao claro-escuro de suas pinturas.
Se esse bracelete saiu do papel, não sabemos. Mas se chegou a ser montado ele era certamente do tipo rígido, pois na época os recursos de ourivesaria não permitiam joias com muita maleabilidade. O desenho serviu de referência para fazer a joia abaixo, maleável e leve, onde os elementos vazados deixam passar a cor da pele, que contrasta com a cor do ouro.
A pulseira foi batizada de Luz e Sombra e traz como detalhe um pequeno diamante negro quadrado, de lapidação princess, no fecho. Ficou linda, né?
Esse desenho acima dá uma ideia de como Burle Marx explorava os elementos geométricos, com altos e baixos. Nos jardins, ele explorava a volumetria, o alto e baixo, usando plantas de alturas diferentes. E ele trabalhava com as cores também, fossem elas de gemas como a turmalina, água-marinha, citrinos, ametistas.
Nesse pendente da H.Stern, acima, batizado de Pedra de Fogo, o ouro amarelo contrasta com o vermelho das granadas. As pedras são quadradas na base e arredondadas no topo.
Nesta pulseira desenhada por Burle Marx, em 1962, dá para ver a sobreposição de elementos retangulares gravadas em entalhes sobre o ouro. O desenho e alguns jardins deixados por Burle Marx serviram de inspiração para o anel abaixo, o meu preferido:
Eu achava que jardim era só de plantas até conhecer o trabalho de Burle Marx. No Rio, ao lado do MAM – Museu de Arte Moderna, há um jardim com “canteiros” de pedra. Você vê num deles uma porção de pedras redondas, como se fossem seixos grandes. Noutro, pedras no formato de paralelepípedos, alguns mais altos do que a gente, outros na altura do joelho.
O anel, batizado de Jardim de Pedras, incorpora os altos e baixos encontrados nos canteiros de pedras de Burle Marx, exploram o jogo de cores e formas, com tamanhos e formatos diferentes de pedras. Diamantes em tons cognac, negro ou branco, com lapidação redonda, retangular ou quadrada. Ficou um show, né? Os brincos também são lindos… ai ai.
Esses desenhos de dois broches, acima, são incríveis, né? Lembram a Natureza, plantas e folhagens. Por conta de suas inúmeras expedições de pesquisa pelo interior do país à cata de plantas, Burle Marx acabou sendo um dos precursores da consciência ecológica, ainda nos anos 60, quando dava palestras sobre o tema. Diversas vezes ele denunciou a destruição e o descaso com as matas brasileiras. Ele uma vez declarou:
“Gostaria que os que viessem depois de mim pudessem, pelo menos, ver alguma coisa que ainda lembrasse o país fabuloso que é o Brasil, do ponto de vista botânico, dono da flora mais rica do globo”.
Muito antes de todo mundo, Burle Marx foi um ativista verde. Ele pesquisou, catalogou e, em vários casos, salvou da extinção inúmeras plantas. Só pra você ter uma idéia, ele catalogou mais de 40 antúrios, descobriu 1 gênero e 18 espécies de plantas. E tem pelo menos 30 plantas que levam o seu nome – encontradas por gente que quis lhe prestar uma homenagem.
Era natural, portanto, que as joias que ele desenhava lembrassem também uma ou outra planta. E, claro, elas inspiraram os designers da H.Stern:
Gente, eu poderia falar muito mais sobre Burle Marx, tamanha paixão e respeito que sinto pela obra desse homem. Até escrevi um capítulo inteiro de um livro, caso você queira se aprofundar no tema joias de Burle Marx:
“Leituras Paisagísticas 3 – Do imaginário a matéria: a obra de Burle Marx”, editado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, com organização de Carlos Terra, Jeanne Trindade e Rubens Andrade.
>>> Por: Roberta Rossetto
Ah! Minha última aquisição na H Stern foi uma pulseira da coleção Burle Marx. Me senti honrada por ter uma peça assinada por esse grande artista. Parabéns H Stern!