O fotógrafo Albert Watson lançou o livro UFO (United Fashion Objectives), que acaba de ganhar versão em português, da editora Alles Trade. Em 400 páginas, ele resumiu 40 anos de fotos na área de moda – um apanhado incrível, imagens belíssimas, coisa de mestre.
Watson é um desses fotógrafos de talento raro, autor de mais de 200 capas para a Vogue e Rolling Stones, diretor de filmes publicitários, cinco livros, inúmeras exposições e prêmios. Tive a sorte de conhecê-lo, anos atrás, quando acompanhei a produção de um livro feito para a H.Stern e batizado de Diário Perdido.
Não importa o que esteja acontecendo, Watson parece atravessar um mar de águas calmas, sempre com a fala mansa, olhar tranquilo. Foi assim que ele nos recebeu, no seu estúdio, em companhia da esposa, Elizabeth, ela com um gato no colo. No meio de nossa reunião, onde ainda discutíamos uma proposta de livro, ele pediu licença, deu dois passos e depois voltou, dizendo, “come, come with me”. Fomos. E nos deparamos com um estúdio na penumbra, música tranqüila, um único ajudante que fazia as vezes de maquiador/cabeleireiro e stylist, Elizabeth, o gato, Watson e, pronta para uma sessão de fotos, Mariah Carrey, posando para a capa de seu novo disco. Watson não levou mais do que 15 minutos para fazer o clique perfeito. Nada de equipes grandes no estúdio. Nada de afetação ou estrelismo, tão comum aos grandes egos, apenas a determinação e a concentração de quem sabe o que quer.
Semanas depois, foi a vez do shooting para a H.Stern. Foi ideia de Watson fotografar as joias no formato de diário de um viajante, um arqueólogo, que registrou o que viu de forma “chapada”, como as fotos 3×4. Ele próprio fez o casting, escolhendo pessoas comuns nas ruas, velhos, crianças, bonitos, feios. Ao serem fotografados, os “modelos” vestiam penas, plantas, peles. A maquiagem era de lama, carvão, tinha. Tudo remetia a povos do passado. Mas eles usavam ornamentos muito modernos, joias dos tempos atuais – um contraste, uma brincadeira, uma ousadia do mestre. Sim, porque fotografar joias assim, convenhamos… só sendo muito ousado mesmo.
Depois de centenas de fotos, Watson passou para o segundo passo: “tratar” as imagens. Não pensem que ele digitalizou e fez interferências por computador. Ele fez cópia da cópia, em papel, para esmaecer as cores. Depois, lixou o papel, amassou, rasgou, fez tudo o que achou que pudesse “envelhecer” a imagem. Uma vez, ligou de Los Angeles dizendo: “Aconteceu um desastre! Os springles do quarto do hotel começaram a jorrar água!” Sim, ele estava queimando as bordas das fotos com a chama de uma vela…
Watson queria que o livro passasse a ideia de presente, passado e futuro, algo desconectado do tempo. Idas e vindas no tempo são exatamente o que fazemos na joalheria (buscar o novo sem esquecer nossas raízes está até na Missão da empresa). Três dias de fotos, oito meses de “envelhecimento”. No final, um trabalho primoroso, como tantos que esse mestre assinou. E, pra nós, uma lição de profissionalismo, de paixão pela arte da fotografia, de envolvimento e comprometimento.
Uma das imagens produzidas para O Diário Perdido está, também, no livro UFO, na pág. 400. Mostra um amontoado de rabanetes secos como se fossem pelos pubianos.
Mais sobre Watson: http://www.albertwatson.net
UFO – United Fashion Objectives – Albert Watson
Editora Alles Trade. 35,5 x 28cm. 408 páginas
295 fotografias (104 coloridas e 191 preto e branco)
Valor Sugerido: R$ 200,00
>>> Por: Roberta Rossetto